Olá! Nesse último final de semana, tivemos o RPTQ Minneapolis em São Paulo, disputado no formato Trios Standard Unificado. No artigo de hoje, pretendo comentar um pouco sobre como as diferenças do Unificado para o T2 convencional influenciaram na preparação para esse evento e os motivos por trás das escolhas dos decks, bem como a nossa performance no dia do evento, onde com um 4-2-1 no Suíço terminamos em 28° lugar dentre os 113 trios. Além disso, pretendo ver como pudemos usar as informações adquiridas no RPTQ e nos últimos eventos premier e no Magic Online para nortear os que ainda seguem em final da temporada Standard de PPTQs e CLMs.

Diferenças do Unificado e escolhas de decks

 

Em meu último artigo, comentei sobre os principais desafios que os trios teriam de sobrepor na hora de escolher os decks. Começamos a preparação com a ideia de três decks mais poderosos possíveis, sem "nerfar" ninguém dividindo cores (Duress/Doomfall em BG/BR/UB) e mesmo staples multiarquétipos (Walking Ballista/Scrapheap Scrounger/Heart of Kiran em BG/BR/Mono G).
 

O Mono Green com splash preto era um dos decks que mais nos agradava, já que nos PPTQs estava tendo uma excelente match contra o bicho papão do formato, o BR, enquanto que pós-side conseguia jogar bem contra UW graças a Scrapheap Scrounger e os descartes pretos. A mão de Ghalta, Primal Hunger e Blossoming Defense era imbatível, uma abertura que faria muitos decks Modern ficarem com inveja. O deck tinha ganho dois PPTQs nas mãos de amigos próximos com quem compartilhávamos informações dos treinos: o Rafael Gaspar (idealizador da build como ela é hoje) e o Eduardo Carvalho; e a única match ruim nos "reports" era contra o Mono Red puro, por ser mais agressivo e com mais chances de emplacar o combo Soul-Scar Mage e Goblin Chainwhirler. 

 

Como opção pro RPTQ, o Mono Red era um dos nossos queridos não apenas pela excelente matchup contra os decks verdes e o BR, mas por praticamente não repetir cartas dos outros decks. Aethersphere Harvester era o único card que poderia ser usado nos decks verdes, mas que entendíamos como crucial pro sideboard do Mono Red. A vitória no Pro Tour e o constante bom desempenho do deck nas ligas do Magic Online era mais uma garantia que esse era um deck poderoso, seguro e lockado.

Naturalmente, o terceiro elemento seria um deck de Teferi. Indo no princípio da não-repetição de cartas e cores, a casa do Teferi seria UW Control puro. Para neutralizar as Desintegrações e Abrades do BR, o plano de Approach of the Second Sun utilizado pelos times Genesis e Revolution no Pro Tour era o nosso preferido, subindo os Torrential Gearhulk e demais bichos no pós-side. Essa mesma inevitabilidade do Approach ajudava a vencer partidas mais grinds, como o BG Cobra e seu plano de Lifecrafter's Bestiary/Vraska, Cacadora de Reliquias/Duress no pós-side.
 

Só que, quando começamos a de fato treinar as partidas, o UW Control parecia não ganhar de nada. Absolutamente nada. "Ah, mas ele tem uma match boa contra Mono Red". Em todos os games que jogávamos, quem estava na play ganhava. De vez em nunca, no pós-side, o UW conseguia quebrar o saque. "Com Settle e Fumigate não tem como perder pros decks verdes!", até ver a dificuldade que o UW tinha em lidar com algumas threats desses decks, como Scrapheap Scrounger, Heart of Kiran, Glint-Sleeve Siphoner e Walking Ballista. Enquanto nem o G1 era confortável, o pós-side contra BG Cobra era um massacre, e mesmo o plano de Approach não funcionava, por não ser rápido o suficiente, já que dependendo de como o side-in/out era feito, o baralho ficava ou pesado demais e morria pra mãos curvadas + um descarte, ou então ficava raso demais, estabilizando o começo mas morrendo para as engines de card advantage dos decks verdes. Nissa, Vital Force era um terror.

 

Quanto mais se passavam os dias de treino, pior o UW se desempenhava — quinta-feira eu brincava sobre a possibilidade de voltar pro Embalm ou pro GPG; na sexta-feira eu começava a ponderar realmente como faria, que teria de usar as Ballistas no Embalm e fazer o terceiro deck o Mono Green; ou se usaríamos as Ballistas no Cobra e eu jogaria de GPG. No sábado, depois de testarmos as últimas partidas para decidir entre Mono Green e BG Cobra, eu já tinha certeza de que não iria com o Control e, sim, com alguma das versões mais alternativas de UW.
 

O BG Cobra não teve uma performance ruim no Pro Tour, com alguns guerreiros postando resultados aceitáveis usando-o, e estava com um plano bem redondo para enfrentar UW pós-side, embora ainda sofresse para os baralhos vermelhos. No entanto, o Mono Red era melhor pra ele do que para o Mono Green, e talvez não tivessem tantos BR no Trios pela natureza do formato. Contra o field como um todo, ele se comportava melhor que o Mono G, principalmente nas partidas pós-side, e foi o fator determinante para me colocar no UW GPG na madrugada do sábado pra domingo, já que eu não teria acesso às Ballistas no Embalm (e tampouco tinha uma lista tunada do mesmo, enquanto o GPG era o deck que eu estava usando nessas últimas semanas de Standard no MTGO).
 

GPG pareceu uma escolha bem não-ortodoxa em um mundo onde todos os trios tinham um UW, Esper ou UB Teferi. Mesmo assim, o deck parecia estranhamente bem posicionado — BG Cobra não possui respostas no G1 para o plano rápido de GPG; Mono Green tem somente o Brontodon, mas é suscetível aos Guarda da Feira; UW Control é um baralho tão passivo que acaba sendo forçado a reagir mesmo às criaturas fracas do GPG no "modo beatdown", facilitando encaixar o combo pós Fumigate/Settle; e o Mono Red dependia de quantos Abrade estavam em seu MD e o quão pesada era a build dele. Além disso, algumas cópias de Sunscourge Champion ajudam bastante a trazer a match em favor do GPG, já que é um bicho robusto que joga bem o plano "midrange" do deck. O fato do Gifts ter um plano mais "pra frente" do que os outros UWs também foi um fator decisivo na hora de escolhê-lo.
 

Para fechar o Trios, o deck que estava batendo em todos os outros nos treinos, mesmo em suas "teóricas bad matchups" e, de longe, o que mais correspondeu e nos surpreendeu durante o evento: o Mono Red. Nossa lista estava mais pro lado "leve" das builds, com Phoenix somente no sideboard, e para melhorar contra Controles ainda no G1, usamos uma Chandra e uma Chama de Keld, além das adicionais Chandras de SB.
Quanto aos decks vs. jogadores, cada um ficou na sua zona de conforto. O Calazans jogou com o BG Cobra, deck que em outras temporadas ganhou PPTQ e fez Top 8 em RPTQ; eu joguei com o UW GPG, que vinha utilizando no MTGO e uma variação de deck de cemitério engraçadinho como o UW Embalm com o qual ganhei o PPTQ essa temporada; e a Marcela com o Mono Red, deck agressivo de Bomat Courier e Hazoret the Fervent, com similaridades ao querido Mardu Veículos dela que já faturou 3 PPTQs em diferentes momentos.

 

 

 

 

 

Quanto ao RPTQ em si, começamos mal, abrindo 0-1-1 em partidas próximas, em que os pareamentos que julgávamos ideais acabaram encaixando mal. Logo no começo, enfrentamos um trio forte, com o Thiago "Bofe" recém saído do Pro Tour com seu BR e que esmagou o Calazans em dois games rápidos. Do outro lado da mesa, o Mono Red da Marcela conseguiu se sobrepor ao UW Control do Rufino com algumas linhas agressivas pra cima de um possível Settle aberto. Na minha partida, enfrentei o Matos, de Mono Green puro, sem splash. No G1 ele levou com a temida combinação Ghalta e Blossoming Defense contra minha interação em forma de Guarda da Feira. G2 volto múltiplos anjos gigantes com lifelink, e a jogada decisiva no G3 é quando, depois de começar muito atrás, acho uma abertura para voltar um Angel of Invention, mas que precisa trocar com a Skysovereign dele. Ele então dá Naturalize no GPG e ainda passa com o Brontodon aberto. Meu Refurbish na mão não é suficiente para duas interações, e saímos derrotados na primeira rodada.

Na segunda rodada, jogo contra UW Control de forma mais conservadora, respeitando Settles e Gearhulks, mas com isso acabo dando tempo para ele cavar por outras respostas e perco millado, sem bichos no deck, com os GPGs ativos. Na minha segunda partida, mulligo para uma mão medíocre, permitindo que um Teferi estabilize fácil no G2. A Marcela garante na mirror de Mono Red do outro lado, e o Calazans acaba empatando a partida no tempo contra o UB Scarab em um G3 em que ambos estavam no modo top deck, e não tinha como ter uma definição do que aconteceria sem de fato jogar a partida.
 

As próximas rodadas foram melhores — enquanto o Mono Red seguia batendo e garantindo as vitórias, tínhamos rodadas em que o GPG funcionava, em outras, o BG Cobra e, na única rodada em que o Mono Red foi batido por um UB Control, tanto eu como o Calazans conseguimos vitórias apertadas contra Mono Red e UW Midrange, respectivamente.
 

O ponto decisivo que nos impediu de chegar numa colocação mais alta, possivelmente até empatada em pontos com os últimos slots do Top 8, embora nosso desempate fosse sabidamente fraco, foi na penúltima rodada. Calazans contra UW Control, eu contra Mono Red e a Marcela contra BG Cobra. Ela vence o BG Cobra. Depois de mulligar a 6 na draw e não conseguir estabilizar o G2 forte do Mono Red, estamos eu e o Calazans 1x1 em nossas matches. Eu acabo mulligando a 5 na Play, e mesmo conseguindo fazer um GPG trazendo Guarda da Feira, no meu segundo turno eu fracasso em ressuscitar um bicho, mesmo com Angel of Invention na mão (e somente quatro terrenos que me impedem de castá-lo), dando tempo para ele me finalizar no dano.

 

 

Olho, então, para a partida do Calazans que parece promissora: Duress + Sifonadora Bracoluz é a combinação de cartas que você quer ver contra o Controle. Uma Vraska na mão também não é nada mau. No entanto, em ativações após ativações da Sifonadora, ele falha em comprar business relevante e acha praticamente só terrenos, e o UW estabiliza com Teferi.
 

Sem chances matemáticas de algo mais além da premiação, jogamos ainda a última rodada contra o trio do João Lelis, do Júlio e do Aloyr. Eu estava contra UW Approach "antigo" do Lelis (com Opt, Supreme Will e Censor), o Calazans contra Abzan Cobra, com Shalai, do Aloyr; e a Marcela de Mono Red contra o BR do Júlio. Nessa partida, uma combinação de Azcanta flipada rápida para acelerar junto com a pressão das criaturas me permitiu encaixar GPG rápido e, a partir daí, pressionar fortemente o UW, matando no turno que ele iria revelar o Approach pra Azcanta. No pós-side, depois de conseguir encaixar um GPG que foi respondido por Cast Out, ele tomou um blowout com meu Teferi, voltando o encantamento pro topo e ressuscitando mais bichos, até um Negate no Settle fechar a conta. Do outro lado, uma mão absurda curvada por parte da Marcela no G3, junto a um flood do BR do Júlio, decretaram a match, onde o BG cobra estava levando desvantagem pros bichões e PWs mais robustos do Abzan.

4-2-1, 28° lugar, e alguns boosterzinhos levados para casa. Analisando friamente, considerando também as dificuldades da preparação para esse evento, até que o resultado nos foi satisfatório, e tenho certeza que, com uma preparação mais forte, coisas promissoras nos aguardam para a sequência da temporada!

 

 

Mesmo sendo um evento à parte, ainda é possível extrair algumas conclusões pro Standard convencional. O grande apelo do UW Control é a capacidade de jogar contra o BR, mas em troca perde muito nas outras matchups. No pós-side, então, a situação complica ainda mais, já que alguns cards são muito difíceis para que o UW interaja adequadamente, e tanto os planos de Approach como os de bichos já são conhecidos, fazendo com que um oponente preparado saiba jogar em volta e não seja pego de surpresa. Se for para jogar em volta de Teferi, UB Control splashando o PW parece ser mais adequado para o metagame, e eu iria de algo nessa linha: