Banner LigaMagic
As Máscaras de Mercádia – Maquinações
Parte XIII
05/11/2017 10:00 - 2.711 visualizações - 8 comentários
 Banner LigaMagic

 

As Máscaras de Mercádia – Parte XIII
 
Maquinações
 
 

A escuridão tomava conta do convés do Bons Ventos.

O pobre Squee acordou preso a uma cadeira e com as mãos atadas. Ele tentou, inutilmente, se libertar, mas o esforço apenas fez com que um balde de água gelada fosse jogado sobre ele. Vozes desconhecidas conversavam sobre o fato de ele ter acordado outra vez e, mais uma vez, tentar se libertar. Não era a primeira vez que lhe jogavam água. Quando as duas vozes ganharam forma, dois Kyren trajando vestes pomposas, eles apareceram diante dele e ao seu lado um Mercadiano, magro e alto, cujas vestes demonstravam seu status de serviçal.

Squee se debateu outra vez contra as cordas. Ele deu um grito pálido enquanto raspavam a carne dele. Os Kyren discutiam se o fato, de ele estar perambulando por ali, fora intencional ou casual. Será que seus amigos o haviam enviado para espioná-los? Um deles, o maior e com comportamento mais autoritário, perguntou a Squee se seus companheiros sabiam do paradeiro dele.
 
O goblin balançou a cabeça negativamente.
 
O Kyren que parecia o líder, tomou o queixo de Squee em seus dedos delgados e o torceu para frente e para trás, apenas o suficiente para enfurecer Squee e fazer com que ele mordesse a mão de seu opressor. Em resposta, o Kyren esbofeteou o pequeno goblin. Ele pôde sentir o sangue escorrendo pelo queixo.
 
O outro Kyren se adiantou e falou com uma voz calma e gentil, tocando o ombro de Squee ele perguntou “Nós não somos um povo? Nós não somos todos klomahamin?”
 
Na língua comum, os goblins de Mercádia são chamados de Kyren. Klomahamin era a mesma palavra no idioma deles.
 
A tentativa de conquistar Squee foi interrompida pelo líder Kyren, que pegou uma tigela da mão do serviçal e a quebrou no joelho de Squee. O goblin sentiu algo estourar em seu joelho e berrou até rasgar a garganta. Os Kyren o observavam impassivelmente. Squee caiu da cadeira, devido à dor e o berro, e o pequeno Kyren se aproximou outra vez perguntando se seus companheiros sabiam de sua localização.

Squee balançou a cabeça.
 
O Kyren perguntou onde Gerrard havia ido.
 
Ele balançou a cabeça outra vez.
 
O Kyren perguntou quando eles voltariam.
 
Quando Squee tentou balançar a cabeça outra vez, ele sentiu a dor na perna tão intensa que quase desmaiou. O mundo escureceu e ele sentiu a sala desaparecer, mas ainda sim Squee ouvia a conversa na sala. Os Kyren debatiam se deviam continuar a despertá-lo e se as respostas dele eram verdadeiras. A incerteza deles foi rompida por uma voz que veio de longe. A voz afirmava que o goblin nada sabia. Uma voz extremamente familiar.
Ela estava certo que o goblin era inocente, mas nem por isso deixou com que o libertassem muito menos que o matassem. Squee lutou para continuar consciente. Em meio a sua dor, ele sentiu uma pressão no ar, como se algum ser, vasto e além de sua concepção estivesse se debruçando sobre ele, puxando sua mente, tentando dominá-lo e rasgá-lo.
 
A forte presença crescia mais forte.
 
“Não. Eu não quero que ele seja morto. Ele proporcionará uma vantagem útil contra seus companheiros, e quando isso acabar, pode ser que ele sirva para me entreter.” (Máscaras de Mercádia, p.276)
 
Uma mão tocou a testa de Squee, e, repentinamente, ele viu um corredor cheio de espelhos brilhantes.
 

Ele se virava em cada caminho, e em cada espelho ele via refletido uma pequena e amedrontada figura – ele mesmo. Lentamente, ele caminhou pelo corredor sem fim. Cada imagem dele se tornou, sutilmente diferente. Enquanto ele avançava, as imagens ficaram mais magras, a pele mais apertada. A cada passo relutante, Squee sentia seu corpo se contrair e se contorcer. Ele estava faminto e sozinho. Ele jamais veria seus amigos outra vez. Ele jamais experimentaria comida de novo. O goblin sabia com certeza que, em todo o Multiverso, em todos os incontáveis planos e mundos, não havia mais ninguém senão ele. Através do espaço e do tempo, não havia mais ninguém a não ser ele.

Ninguém.
 
Ele chorou em desespero. Seu berro, alto e queixoso, ecoou pelo corredor de espelhos e não encontrou ouvinte. Tudo o que ele via era sua imagem refletida infinitamente. Ajoelhando-se, ele chorou. Lágrimas caíam pelo chão. Elas se espalharam e se congelaram ao redor dele, formando um poço congelado. Dentro do gelo, Squee viu sua sombra congelada, presa para sempre em tristeza. Ele sabia que jamais escaparia, que estava aprisionado para sempre.
 
Com alívio, ele sentiu sua mente deslizar. Ele ouviu os goblins perguntarem a mesma pergunta de antes, mas desta vez ele não ouviu sua resposta.  O mundo onírico minguou, e a pequena chama que era sua mente, piscou com um pensamento final.
 
Volrath...
 
Enquanto Squee passeava pelos Salões Oníricos, Hanna e Karn esperavam nervosamente em seu esconderijo, na cidade baixa. Um lugar que era um esconderijo melhor para batatas, – o qual fez Karn se sentir perfeitamente bem lá devido a sempre quebrar coisas ao seu redor – iluminado apenas por uma vela, pequeno, sólido, escuro assim era aquela adega esculpida na rocha. Os dois não podiam caminhar com segurança nas ruas noturnas de Mercádia, somente na companhia de Squee que era possível... e Squee estava desaparecido por horas.
 
Eles tinham um pressentimento sobre o pequeno homenzinho verde. Hanna balançava sua cabeça e dizia para Karn que ele devia ter sido capturado. O golem de prata também compartilhava do mesmo pensamento. Eles não tinham como saber se era noite ou dia. Diante dessa circunstância, Karn acreditava que seria melhor enfrentarem as ruas e se encontrarem com os Ramosianos, talvez eles soubessem alguma coisa de Squee. Mas Hanna não achava muito prudente isso, pois era muito arriscado. Ele poderiam acabar levando os Mercadianos até os rebeldes.
 
De repente, Hanna ouviu alguma coisa. Alguém estava vindo. As dobradiças soaram alto. A sujeira crepitou por baixo de passos furtivos, e as portas se fecharam acima. Hanna perguntou, de maneira irônica, se Karn estava pronto para lutar. Muito improvável. Mas o golem de prata aprendera a blefar.
Embaixo da escama escura das escadas, se esgueirava uma figura magra e muscular. A sombra alcançou o último degrau e caiu sobre a cela. Mesmo no escuro, o fogo do cabelo vermelho era inconfundível.
 
Takara.
 
Ela adentrou ao recinto, carregando uma bolsa na mão. Há muito tempo Karn já estava desconfiado dela tanto que sua primeira pergunta foi: Como ela os encontrou?
 
Segundo ela, Squee disse onde estavam – o que realmente era verdade – e agora estava na Torre do Magistrado. Ela pretendia levar os dois para lá, mas antes disso, Hanna percebeu o brilho dos Ossos de Ramos na bolsa dela. Olhando por detrás de Hanna, Karn contemplava os cristais. Eles não somente eram lindos, como possuíam inteligência.
 
Eles eram o próprio Ramos, uma vez que o dragão havia energizado as pedras com seu próprio poder.
 
Hanna estava maravilhada com as pedras. Agora, bastava encontrar o Bons Ventos, inserir as pedras e reunir todo mundo.
Mas esse era o porém porque não podiam mais reunir todo mundo.
 
Uma nuvem escura pousou sobre Karn e Hanna. O medo da resposta à pergunta deles. Takara disse que todos estavam mortos. A tripulação havia morrido dando a vida pelos cristais. A descrição da morte dos membros foi digna de coroação. Volrath, além de ser um metamorfo, era muito bom em suas narrativas.
 
Takara caiu de joelhos e escondeu o rosto nas mãos, chorando copiosamente. Tahngarth foi morto por carniçais de Deepwood. Ele foi cercado por cinco e lutou contra todos ao mesmo tempo. Os carniçais enfiaram suas garras nele e o cercaram. Arrancaram os olhos, rasgaram suas tripas, abriram a cabeça e comeram seu cérebro. Quanto a Sisay, ela foi atacada por um Wumpus que saltou do topo das árvores e esmagou seu corpo. Ela foi aberta como uma salsicha. O Wumpus arrancou sua cabeça como se fosse uma uva.
 
Hanna já estava aos prantos, mas ainda faltava a pior das mortes.
 
Takara e Gerrard foram os únicos que sobrevieram aos ataques. Assim que chegaram a Ouramos, enquanto ajuntavam às pedras, Ramos apareceu. Hanna não fazia ideia do que ou o que era Ramos, porém quando Takara disse que ele era um enorme dragão mecânico, seu primeiro pensamento foi que Gerrard havia sido queimado vivo.
 
Não, foi à resposta de Takara.
 
Ele foi despedaçado?
 
Pior.
 
Gerrard morrera de medo!
 
Hanna ficou um tanto quanto incrédula quanto a isso. Na verdade, ela não compreendia direito como isso ocorreu. A história de Takara dizia que, assim que Ramos surgiu, Gerrard caiu morto de medo e se borrou todo. Essa versão da morte de Gerrard não foi muito convincente. Volrath narrou à forma como gostaria que seu meio irmão houvesse morrido. Aquela narrativa era puro ódio e rancor exalando. Não somente a história soava totalmente estranha, mas no brilho dos cristais, o rosto de Takara parecia que estava rindo ao invés de soluçando. Seu rosto parecia uma máscara com um olhar lascivo.
 
Ela respirou fundo, e então os soluços se transformaram em risos histéricos.
 
Hanna balançava a cabeça sem compreender com as lágrimas escorrendo. Mas a resposta foi à mesma.
 
“Gerrard se borrou e morreu!”
 
A sentença foi seguida de um berro exultante, mas nesse momento, Karn avançou e uma enorme e pesada mão de prata esbofeteou o rosto de Takara.

“Monstro perverso. Odioso e maligno monstro!”
 
As suspeitas de Karn finalmente se confirmavam.
 
Takara se ergueu com o sangue substituindo o sorriso. Sem medo, ela encarou o golem de prata pedindo para ser golpeada outra vez. Tremendo em fúria, Karn se afastou. Ele chiou dizendo que queria isso, mas não o faria. Se o fizesse, ele a mataria.

Ledo engano.
 
Na estranha luz da vela e das powerstones, ela limpou o sangue da boca e começou a transformar o rosto. O cabelo vermelho se transformou em pele osso e cinza. Pequenos chifres surgiram do cume do crânio. Os olhos humanos ficaram brancos, orbes perfurantes. O corpo esguio e delgado deu lugar a uma massa contorcida e monstruosa. Um torso bulboso ganhou forma. Somente o sorriso zombeteiro e sangrento de Takara permaneceu o mesmo, mas no lugar estava Volrath.
 

Ele provocou Karn outra vez.

O golem de prata berrou como um animal selvagem e saltou sobre o Evincar. Mas Volrath era muito rápido. Ele esquivou, e Karn se chocou contra uma pilha de caixas vazias. Karn os arremessou para longe e se virou. Ele estava decidido a matar Volrath. Porém o Evincar partiu em direção a Hanna e a agarrou pelo pescoço com suas garras. O frágil corpo da navegadora foi erguido como se fosse papel. Usando-a como um escudo humano, Volrath disse que se ele tentasse atacar ele a mataria estrangulada  eviscerada.
 
Karn estava de pé, com as mãos famintas para despedaçar o monstro, mas ele sabia que Volrath era um covarde. Desde o tempo em que ele era Vuel, ele fora uma criatura hedionda, esquiva, furtiva que se escondeu da tripulação por medo de enfrentá-los abertamente. Com o rosto prensado contra o de Hanna, Volrath respondeu maliciosamente:
 
“Talvez, mas que diferença faz a covardia quando alguém sempre ganha? Eu sempre ganho.”
 
Ele assobiou e as portas da adega foram escancaradas. Descendo as escadas, um regimento de guardas encheu o local.
 
* * * * *
 
Havia uma estranha parada nas ruas de Mercádia naquela noite.

Mercadiano cercavam um par de figuras patéticas. Ambas estavam aprisionadas pelos tornozelos e pulsos, impulsionados por um enxame de tridentes. A mulher loura caminhava como se tivesse a alma morta. Era um rosto realmente triste. Ao seu lado, o massivo golem de prata balançava os braços inutilmente, a cabeça curvada em sinal de derrota. Volrath caminhava à frente, como um guerreiro conquistador, acenando suas mãos para a multidão e segurando os cristais reluzentes.
 
Orim estava observando tudo isso.
 
Seu coração pesava ao ver os companheiros daquela forma. Ela também ouviu rumores de que Squee  estava sendo mantido cativo dentro da cidade. Se ela estivesse ao alcance de seus companheiros Ramosianos ela enfrentaria esse regimento... ela enfrentaria se não fosse pela figura do Evincar liderando a parada. Ela percebeu que, se ele estava caminhando ali, abertamente, era porque ele os governava. Ele não caminharia abertamente se não fosse para atrair Orim e seus colegas rebeldes.
 
Apesar do pesar no coração, Orim não seria atraída para essa armadilha.
 
Não estava sendo uma noite boa para Hanna. Após saber da morte de Gerrard e da tripulação, Takara fez algo pior do que morrer. Volrath os levou através das ruas, os expondo, provocando e contando sobre a destruição de Gerrard, como ele manipulou a tripulação do Bons Ventos, a Matriz de Energia, os Ossos de Ramos. Ele se vangloriava de como os recuperou, e como capturara dois membros da tripulação que saberiam como unir os cristais.
 

Hanna observava os telhados, na esperança de que, nem Orim, nem Cho-Manno fossem ludibriados para essa armadilha.

Tão serpenteantes quanto às formas acima do solo, as cavernas, para aonde Volrath estava levando-os, eram um labirinto hipnotizante.  Espirais infinitas, poços, escadas e corredores enrolados – o pisar da bota dos soldados ecoava sobre a pedra. Pelo menos, as provocações de Volrath cessaram quando eles entraram na caverna.
 
Eles desceram até uma passagem que se abriu, e Hanna sentiu uma pontada de esperança. Lá, diante dela, em uma ampla caverna, estava o Bons Ventos. Ele fora reparado pelos Mercadianos e agora, estava pronto para voar outra vez. Volrath caminhou até Hanna, contemplando o navio como se fosse dele, mas Hanna o lembrou que o navio era, ainda, de Gerrard. Para ele, seu meio irmão, era como um sapo vestido de rei. Ele não merecia o Bons Ventos, não merecia o Tomo Thran, não merecia o Legado e agora,  tudo isso seria dele.
 
Hanna estava perplexa diante do fato de que, perante a armada de navios no hangar, o Bons Ventos parecia insignificante. Havia navios maiores do que ele lá, mas mesmo assim Volrath apenas queria o Bons Ventos. Mesmo entre centenas de navios, a inveja de Volrath era latente. Ele apenas desejava o Bons Ventos porque pertencia a Gerrard.
 
A resposta a essa afronta foi uma bofetada no rosto com tanta força que lançou Hanna no chão. O Legado era dele agora e ela colocaria todas as peças juntas para ele. Olhando com fúria, Hanna limpou o sangue da boca.
 
“Você pode me torturar, mas você não pode me fazer reparar o Bons Ventos para você?”
 
Ele gesticulou para o mastro de um navio. Uma corrente estava conectada a ele e a outro mastro, e alguma coisa estava pendurada naquela corrente. Não alguma coisa – alguém.

Squee!
 
Volrath estava realizando um tipo de crucificação.  O processo era gradual e agonizante. Todo o peso de Squee é mantido no alto pelos grilhões que prendem seus pulsos. A princípio, a dor não é tão ruim, mas a cada momento os músculos e tendões ficariam mais fracos. A circulação cessa nas mãos. Os ombros se deslocam lentamente, e as vísceras se esticam pelo diafragma. Os músculos do tórax ficam tão cansados que não podem mais forçar o ar para fora, eventualmente, ele morreria sufocado porque não seria capaz de exalar. Morreria sufocado, apesar dos pulmões estarem cheios de ar.
Infelizmente, Squee ainda não era imortal.
 
Era uma morte bastante engenhosa e agonizante. Não somente por ser um apelo emocional, mas a vida de Squee dependia de Hanna porque, se ela reparasse os motores, ela poderia usá-los para abaixar os mastros e salvar seu amigo. Volrath não estava impondo tempo a Hanna, mas Squee estava. E se ela permitisse que ele morresse, ele simplesmente arrastaria Orim e a penduraria lá da mesma forma, e com Tahngarth, e Sisay, e Gerrard. O Evincar arrastaria cada amigo dela se fosse preciso.
 
Foi quando ela percebeu que seus amigos ainda estavam vivos... por ora.
 
Karn caminhou para erguê-la do chão. Eles não tinham muito tempo.
 
* * * * *
 
“Nós não temos muito tempo,” berrou Orim para o aglomerado na câmara subterrânea.

Era um grupo heterogêneo – Ramosianos rebeldes se ajuntaram com Lahaime; batedores celestes e magos d´gua Cho-Arrim que chegaram à noite da grande tempestade; um contingente da elite dos guerreiros Saprazzianos enviados pela grande Vizir; uma tripulação de Rishada que se ajuntou a causa de Cho-Manno enquanto ele atravessava o mar; homens-touro, homens-javali, grifos, e outros que não eram humanos e nem goblins.

Todos desprezados em Mercádia.
 
 
Era um exército misto de rebeldes.

Estas poucas centenas, dificilmente, seriam páreo para a guarda Mercadiana e seus mercenários e seu mestre Volrath
 
“Nós temos um novo inimigo. Esta rebelião se iniciou contra a corrupção dos nobres e as manipulações malignas dos Kyren. Nós caímos como meros peões em um jogo maior. Agora, está claro que até mesmo estes grandes inimigos são peões de um mestre muito mais malévolo. O regente Phyrexiano, Volrath, está aqui em Mercádia. Ele governa a cidade através dos Kyren e dos nobres. Ele capturou a nau voadora Bons Ventos, o tesouro nacional de Saprazzo, e os Ossos de Ramos. Em alguns dias, talvez horas, ele combinará essas armas e as usará contra nós e nos matará. Nós não temos muito tempo.” (Máscaras de Mercádia, p. 287)
 
Uma voz se ergueu dos batedores celestes Cho-Arrim, perguntando como eles lutariam se o Unificador não havia se erguido. Foi Cho-Manno quem respondeu.Seu povo não podia mais esperar para que o Unificador se erguesse. O Unificador estava nas mãos dos inimigos e agora, era a vez de eles se tornarem seus próprios unificadores, seus próprios salvadores. Se eles não lutassem agora, o Unificador se levantaria para lutar contra eles.

Um brado coletivo ecoou pela caverna.
 
Um capitão de Rishada interrompeu o barulho. Ele levaria suas forças através das portas que se situavam na base da cidade e encontrariam o Unificador e tentariam fazer com ele lutasse pelos rebeldes. O rebelde com uma cicatriz no rosto, Lahaime, levaria os Ramosianos para atacar a Torre do Magistrado e o governo. Os magos d’água e os batedores celestes criariam uma nova tempestade sob as ordens de Cho-Manno. A água era uma ferramenta essencial para os Cho-Arrim e Saprazzianos.
 
Mas e o Mercado?
 
Não se pode ganhar uma batalha em Mercádia a menos que você tome o Mercado.
 

Entre os líderes rebeldes havia um jovem rapaz com cabelo preto e despenteado. Um rapaz que, para muitos ali dentro, o tomariam como um mero pajem. Sua voz ainda era jovem, embora ele falasse com calma e confiança que impressionou a todos. Aquele era Atalla da fazenda Tavoot e, assim como muitos outros fazendeiros, ele foi a Mercádia levar as frutas da colheita. Assim como tantos outros fazendeiros, ele estava farto do governo de Mercádia. Os fazendeiros estavam unidos por aquela causa, e encheriam os mercados. Ele lideraria seus companheiros para as praças de mercado, alto e baixo.

Houve quem desacreditasse das palavras do jovem. Como um mero garoto, lideraria um grupo de camponeses?
 
Segurando gentilmente os ombros de Atalla, Orim falou a multidão:
 
“Ele pode parecer jovem para vocês, mas Atalla foi o homem que tornou Gerrard e seus companheiros em herois da plebe. Atalla foi quem nos transformou em matadores de gigantes.”
 
Atrás deles, um grupo de comerciantes de Jhovall estava irritado ao perceberem a nuvem cinza que se formava sob a tempestade. O jingle dos sinos do chicote e o ronronar que vinha de várias centenas de montarias era acompanhado por rumores descontentes das nuvens acima. Na praça de mercado além da muralha, as tendas flutuavam com o ascendente vento, resfriadas pela névoa não natural. Os trabalhadores se esforçavam, golpeando mais profundamente as estacas para evitar que as telas se soltassem. Os guardas ao longo da muralha agachavam-se de forma irregular e olhavam para o céu com cada grilhão distante dos trovões.

O guarda Mercadiano mais rápido se aproximou do líder dos mercadores perguntando quantas bestas ele trouxera para o mercado. Respondendo no dialeto comum dos mercadores, sua voz parecia zombeteira. Seu rosto escuro e os brincos no nariz proclamavam que ele era um Tsarisa das planícies do norte. Ele  trouxera duzentas bestas para negociar em Mercádia.
 
Ele tentou negociar com o guarda. O Mercadiano exigia seis peças de cobre para que os levasse para a cidade.
 
“Duas.”
“Cinco.”
“Quatro”
“Feito.”
 
O comerciante puxou uma bolsa de couro gordurosa de sua sela e extraiu seu valor. O guarda pegou o dinheiro e o guardou em seu uniforme. Ele acenou para os comerciantes à sua frente e olhou torto para aquele bando. Eram figuras sujas e barbudas cujas vestes se apertavam com força ao redor do rosto para manter o pó do deserto longe. Eles deviam se apressar porque uma tempestade estava vindo. Um comerciante, consideravelmente maior do que os outros, parou e ergueu um par de olhos negros para olhar de volta. Havia censura naquele olhar. O comerciante continuou andando.

Cuspindo no chão, o guarda olhou para o próximo grupo que se aproximava.
 
Os comerciantes circundavam a base da montanha antes de encontrar um local limpo para lançarem suas tendas. Os Jhovall se deitaram para se alimentar. Deixando alguns para ficarem de olho no rebanho, os comerciantes se ajuntaram na tenda maior para fazerem sua refeição noturna. Os pastores comeram em silêncio, quebrado somente pelo barulho de mastigar, engolir e dedos. Trovões distantes soavam como potentes tambores de guerra.
 
Após a refeição ter se finalizado, os pratos removidos e o tabaco sendo aceso, o líder falou direcionado para um homem. “Nós chegamos ao seu destino. Você pagou pela nossa ajuda, e nós o trouxemos através dos guardas como nós combinamos. Você quer nos deixar agora?”
 
O pastor jogou para o lado sua capa, revelando uma cabeça coberta por um cabelo escuro e uma fina cicatriz na bochecha. Seus companheiros fizeram o mesmo. O mais alto tirou com cuidado sua capa de um par de chifres magníficos.

“Nós devemos deixar vocês e encontrar nossos companheiros na cidade. Nós agradecemos pela sua assistência, mas agora nós devemos encontrar um caminho para cima.”
 
Assim respondeu Gerrard, Capasheno.
 
O líder deu uma boa tragada no cachimbo e cuspiu, como era de costume, e disse que aquilo não seria uma tarefa fácil. Mas mesmo assim, Gerrard disse, eles deviam tentar. O líder assentiu ligeiramente. Respondendo, ele disse que poderia mostrar um caminho até a cidade. Um caminho secreto conhecido pelo seu povo que no passado, permitia adentrar a cidade sem ter que pagar pela entrada e as taxas impostas pelo magistrado. Se Gerrard usasse os elevadores, ele seria rapidamente reconhecido pelos guardas, mas se fossem pelo caminho secreto poderia evitar isso.

Em retorno, o líder queria saber o que eles pretendiam fazer na cidade. Gerrard argumentou que, se ele pouco havia dito era porque queria evitar que os pastores corressem perigo, todavia o Grande Respeitado Shi’ka (líder dos pastores) não era bobo. Ele sabia que eles devia estar planejando alguma coisa contra o magistrado e aqueles que o apoivam-no e, para ele, isso era algo bom, pois ele e seu povo sofriam com as taxas e subornos do magistrado.
Gerrard olhou para ele por um tempo em silêncio. “Eu posso garantir a você, Shi’ka, que seja o que for que façamos na cidade, o magistrado não vai gostar.”
 
Um trovão ecoou ao fundo... a tempestade chegara.
 
 
Leandro Dantes ( Arconte)
Leandro conheceu o Magic em 1998 e, desde então, se apaixonou pelo Lore do jogo. Após retornar a jogar em 2008, se interessou por lendas, o que resultou por despertar a paixão pela escrita. Sempre foi mais colecionador do que jogador e sua graduação em Pedagogia pela Ufscar cooperou para que ele aprimorasse e desenvolvesse um estilo próprio. Autor de alguns contos, todos relacionados ao Magic, já traduziu o livro de Invasão e criou sua própria saga com seu personagem, conhecido como Arconte.
Redes Sociais: Facebook
Comentários
Ops! Você precisa estar logado para postar comentários.
(Quote)
- 07/11/2017 15:16:04

Se tiver interessado. A lista seria mais o menos assim:
https://ligamagic.com.br/?view=decks/view&deck=711540

(Quote)
- 06/11/2017 23:39:24

Final do mês acaba se a graça de Serra assim permitir.

(Quote)
- 06/11/2017 21:51:38
arconte falta quantas postagens pro lore de mercadia acabar??
(Quote)
- 06/11/2017 21:51:09

tem como tu fazer sim! fica bem legal! a ideia é ganhar com o dano do general ou infect mas tu vai ter que gastar uma nota!

(Quote)
- 06/11/2017 16:06:24

Tenho a minha. Mas nada muito OP. To tentando fazer ela rodar.

Últimos artigos de Leandro Dantes
Quem Mexeu no Meu Mana?
Um assunto muito comum entre os jogadores, porém, através do Multiverso, ele desapareceu: O mana.
3.128 views
Quem Mexeu no Meu Mana?
Um assunto muito comum entre os jogadores, porém, através do Multiverso, ele desapareceu: O mana.
3.128 views
29/02/2024 10:05 — Por Leandro Dantes
O Natal de Saheeli
E se a Terra fosse mais um plano do Multiverso?
3.333 views
O Natal de Saheeli
E se a Terra fosse mais um plano do Multiverso?
3.333 views
22/12/2023 10:05 — Por Leandro Dantes
Mitologia e Cultura em Ixalan
Um panorama de algumas referências dentro da coleção
3.624 views
Mitologia e Cultura em Ixalan
Um panorama de algumas referências dentro da coleção
3.624 views
25/11/2023 10:05 — Por Leandro Dantes
O Lore por detrás do Lore
A resolução final de Elspeth Tirel
2.789 views
O Lore por detrás do Lore
A resolução final de Elspeth Tirel
2.789 views
29/09/2023 10:05 — Por Leandro Dantes
Zhalfir, o Plano fora do Tempo
Alguns dos questionamentos que ficaram com o retorno de Zhalfir
4.007 views
Zhalfir, o Plano fora do Tempo
Alguns dos questionamentos que ficaram com o retorno de Zhalfir
4.007 views
20/07/2023 10:05 — Por Leandro Dantes